Por Andriolli Costa
Foi publicada ontem minha entrevista sobre o Colecionador de Sacis no fantástico site O Recife Assombrado. Fiquei especialmente feliz com o convite porque o projeto, coordenado por André Balaio e Roberto Beltrão, é uma grande inspiração para o Colecionador. Há mais de 15 anos, o Recife Assombrado trabalha mitos e lendas na forma de contos, quadrinhos, palestras e até como incentivo ao turismo. Tudo que diz respeito ao reencantamento do mundo!
Nessa entrevista falo da relação do saci com minha família, sobre os projetos literários, minhas palestras, pesquisas e tudo mais. Super completa! Fica um gostinho para vocês. Leia o resto no blog do Recife Assombrado.
O Recife Assombrado – Por que ele é um personagem tão forte no imaginário popular brasileiro?
Andriolli Costa – É claro que a exposição midiática – desde Monteiro Lobato – o tornou mais famoso personagem do imaginário brasileiro, mas devemos pensar numa camada anterior a essa, que é “por que as pessoas gostam e se identificam tanto com o Saci”. A resposta pode ser que é porque o saci concentra a trindade formadora da cultura popular brasileira: indígena, negro e europeu.
Explico: os primeiros relatos de um Yasy Yateré dizem de um anão Guarani, com duas pernas. Mais tarde, quando as escravas negras assumem o monopólio da contação de histórias, o saci passa a ser descrito como negro e perde uma das pernas. Os motivos são vários, mas gosto especialmente da versão que diz que ele era um escravo que cortou uma das pernas para fugir das correntes e fugiu pulando para a mata. É o Saci como símbolo de resistência, e a perna que lhe falta como uma manifestação de liberdade condicionada, dos sacrifícios que devemos fazer para não nos deixarmos aprisionar.
Por fim, a herança europeia está manifesta especialmente em seu gorro vermelho, objeto de encantamento que guarda a magia do Saci. Tal qual um duende europeu, dizem que o barrete carmesim é símbolo de poder desde os tempos romanos. Existem versões que descrevem pessoas que conseguem palácios e riquezas roubando a carapuça do Saci, mas tão logo ele a recupere faz tudo virar areia e a pessoa volta à pobreza de corpo e espírito que sempre lhe pertenceu.