Juraci Siqueira, poeta paraense, se diz Filho do Boto. O encantamento desta frase ele carrega de crítica e reflexão, mostrando mais uma vez que folclore está longe de ser alienação do povo. Confiram o que diz o artista:
Publicado no Blog do Boto Juraci
Após ter aparecido no quadro “Me leva, Brasil!” do “Fantástico da rede Globo de Televisão, afirmando ao repórter Maurício Kubrusly ser “filho de boto”, muita gente procurou-me para saber da veracidade ou não do fato.
Pois bem: a verdade é que ninguém sacou que a minha “mãe” é a Amazônia e o “boto” em questão é o Capitalismo, esse moço bonito que nos seduz, nos enraba e depois nos abandona prenhes de dívidas e dúvidas.
É o mesmo boto que em tempos idos, travestido de regatão, comia nossas tapuias em troca de um corte de chita ou de um vidro de perfume. E a “minha mãe”, a exemplo da “Mama África” do Poeta, também é mãe solteira, também foi e continua sendo estuprada e emprenhada por esse boto malino, tanto física quanto cultural e economicamente. Ontem, na base do “dá ou desce”, a ferro e fogo; hoje, na mesma base, só que com armas muito mais sofisticadas, sedutoras e eficientes…
Quando disse ao repórter que minha mãe não “pulou a cerca”, porque não havia cerca, quis dizer simplesmente que a Amazônia continua escancarada e indefesa à cobiça internacional. Tem muito “olho de boto” em cima da gente, das nossas riquezas, da nossa biodiversidade. É “olho de boto no fundo dos olhos de toda paisagem…”.

Juraci Siqueira, poeta paraense