Por Procópio Silvestre
Já noite velha, à beira da lagoa
Em que habita, a mãe d’água se penteia,
E canta, e sua voz ao longe ecoa
Como a esplêndida voz de uma sereia.
Mas é em vão que o cabelo aformoseia
Mas é em vão que o penteado aperfeiçoa
Porque um ente, a que apraz a grita alheia
O desfaz sem que dela se condoa.
E ela, vendo, já em cólera, perdido
O seu longo trabalho, interrompido,
Lança-se n’água. E então de entre os refolhos
Das sebes marginais, tênue se eleva
Um riso frouxo e mal contido, e os olhos
Do Saci Pererê chispam na treva.
(Em LOBATO, Monteiro. O saci-pererê; resultado de um inquérito. São Paulo: Globo, 2008. p.319)