
Por Andriolli Costa
Nunca vi a chácara tão silenciosa como no dia seguinte ao enterro do meu avô. O entardecer costumava ser a hora da revoada das araras, quando a passarada fazia o maior piseiro disputando mamão ainda no pé. Naquele dia, a tarde foi muda. Parecia que era a voz de trovão do velho Oliveira que trazia o bicharedo pra perto.
A gente estava sentado em silêncio na varanda, encarando o horizonte infinito do cerrado, quando começou o canto. “Deus quer um! Deus quer um!”. Minha avó levantou com raiva e começou a benzer a casa, ralhando com a ave e expulsando ela dali. Quis saber o motivo.
— É a acauã. Ave de mau agouro… Traz a morte e a seca. Cantou muito por aqui antes do velho morrer.
Levantei e ajudei com o sinal da cruz. Vá embora acauã… A morte já visitou essa casa. Que seu canto não se faça ouvir por aqui tão cedo.