
Queima do Judas, por Debret
Durante a Sexta-Feira Santa os fiéis católicos relembram a morte de Jesus, e seu sacrifício é espelhado pelos vários interditos da quaresma. O mais famoso, claro, é o da proibição de comer carne vermelha. Mas durante muito tempo a data foi marcada como momento de introspecção; não se podia dançar, cantar, assoviar ou namorar, para não ofender o sofrimento divino. Até comer doce era proibido, já que o Senhor só havia se alimentado de fel.
A data seguinte, o Sábado de Aleluia, por outro lado, ganhou ares de festa na cultura popular. As crianças acordavam com as surras simbólicas de raminhos para “tirar a aleluia” e expiar os pecados. A festa se espalhava pelas comunidades, com muita música, comida e o ponto alto: a malhação do Judas.
Os bonecos costumam ser feitos por famílias ou grupos da vizinhança com roupas velhas, estopa e espuma. Há ainda bonequeiros que vendem bonecos personalizados de papel machê que podem custar de R$ 50 a 300. O folclorista Mário Souto Maior relembra que havia um costume antigo de roubar o Judas do bairro vizinho para que os outros não pudessem expiar os pecados no boneco.
Pontualmente ao meio dia, a hora da luz a pino, tem início a expiação dos pecados do apóstolo que traiu a confiança de Cristo. Os Judas são espancados a socos, pauladas e por fim são incinerados.
Tradicionalmente é comum que o Judas seja uma crítica política. Às vezes é um personagem criado para representar uma indignação da comunidade (buracos na rua, violência), em outras representa diretamente um político, personalidade pública e até jogador de futebol. Se o povo sofre, desconta no Judas.
Este ano uma das figuras mais representadas no Sábado de Aleluia foi o presidente Jair Bolsonaro. Cada boneco traz sua própria crítica a um aspecto do governo: das reformas às relações internacionais; da polícia armamentícia ao preço dos combustíveis. Selecionamos o top 10 aqui para vocês:
10 – Judas motorista de aplicativo

Quantas estrelas você dá pra esse Uber?
9 – Judas Girafinha

Achei fofo. Melhor essa camiseta do que o moletom com paletó
8 – Judas pescoçudo

Bem tradicional, seguindo o destino do apóstolo na Bíblia
7 – Judas da arminha vermelha

Vermelho? Comunista!
6 – Judas de Caracas

O Judas na Venezuela teve um rosto bem conhecido
5 – Judas caipira

Quase um Nerso da Capitinga fazendo arminha com a mão
4- Judas Tiozão

Skolzinha no canudo e cigarro no bolso da calça
3 – Judas Carga PEsada

É uma cilada!
2 – Judas Tchutchuca

Tigrão com os cristãos, Tchuchuca com os soldados romanos
1 – Judas Bolsa de Cocô

Tem que ver isso aí.
Pingback: Folclore é o jornalismo do povo | Colecionador de Sacis·
Pingback: Folclore é o jornalismo do povo | Luíz Müller Blog·