[#Saci100] Orelhas de Pau

Orelha-de-pau-Polyporus-sanguineus-foto-Aline-Rezende

Texto da Revista Saci Pererê – 100 anos do Inquérito. Clique aqui para ler e baixar.

“Polyporus sanguineus”. É assim que as convenções científicas conhecem a espécie de fungo que cresce no tronco das árvores. O povo, que é muito mais íntimo, não reconhece esse nome de RG, não. Vão logo botando apelido.

Esse tal de Polyporus virou Orelha de Pau, ou Urupês, como dizem por São Paulo. Lá no interior do Paraná, como conta a leitora Rossiley Ponzilacqua, tem até um nome mais pesado: é Orelha do Diabo.

O que o dicionário sabe das orelhas de pau é sua função. Dizem que o fungo é um decompositor da natureza, e sua presença indica que a árvore já está comprometida. Na natureza nada se cria, tudo se transforma, não é verdade? A árvore se vai e alimenta o fungo.

O que faltou dizer é que o fungo não indica só a morte da árvore. É um índice da passagem do saci pelas nossas bandas. Dizem que depois de aprontar por 77 anos pelo nosso mundo, o saci finalmente morre de velhice. E quando morre, vira a própria orelha de pau.

Interessante é que nessa passagem o saci não morre por inteiro. Afinal, o fungo é também um ser vivo. No imaginário nada se cria, tudo se transforma. O Pererê deixa rastros concretos de sua passagem, alimentando-se da crença tanto quanto da matéria orgânica.

Em janeiro de 2015, eu passava pelo centro de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul e notei que todas as árvores estavam cheias de orelhas de pau. “É um cemitério de sacis”, pensei sem tristeza. Esses já cumpriram sua missão, encantaram a nossa vida.

Mas onde estão os vivos?
Comecei o Colecionador de Sacis para encontrar esses pernetas que ainda saltitam pela terra. Para que mais gente possa ver esses sacis pelo nosso dia a dia, e não só quando já passaram desta para a melhor. A vida deve ser encantada, e o saci é nosso guia pelo encantamento.

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