Alfredo Mucci – Lendas e assombrações ilustradas (1961)

mboi

DEUS MBOI: Filho de Tupã, tinha a forma de uma enorme serpente. A ele seria consagrada a virgem do morubixaba Igabi; mas no dia da consagração de Naipi foi raptada pelo índio Torobó, que fugiu com a moça numa canoa rio abaixo. Ao saber da fuga dos jovens, Mboi ficou furioso e retorcendo seu corpo fez surgir na rocha uma fenda enorme, donde se originou uma catarata que envolveu em suas águas o casal fugitivo.

Publicado na revista O Cruzeiro, 1961

Aqui está uma galeria de seres monstruosos criados pela fantasia popular. Que podem ser atribuídos a uma expressão mítica dos vários medos que afetam o sertanejo: medo dos mistérios do fundo do rio, medo das almas penadas, medo do diabo e dos rumores da floresta. São apenas algumas das 400 lendas coletadas e pintadas, anos a fio, por Alfredo Mucci, jovem artista italiano, estudioso da arqueologia do folclore sul-americano e detentor do prêmio de artes decorativas, instituído pela prefeitura de Belo Horizonte em 1957.

Pintor emérito, cuja expressão artística encontra sucessos na arte do desenho, da xilogravura e do mosaico, trouxe para o Brasil a experiência de longos anos de estudos em Roma, África do Norte e vários outros países da Europa e América do Sul. No Rio e em Minas, firmando-se como desenhista, pintos e muralista, Mucci executa decorações em mosaico em várias cidades nacionais. Do que aproveita para conhecer melhor o Brasil, estudar o seu rico patrimônio etnográfico e folclórico, e recolher material de pesquisas. A apresentação de lendas brasileiras com referência a mitos, duendes e fantasmas, das quais esta reportagem dá uma ideia, é um dos resultados do seu belo trabalho.

Nessa coletânea de lendas e mitos extraídos do riquíssimo patrimônio folclórico indígena e popular, o artista tem tido o auxílio, sob todos os títulos inestimável, de D; Maria de Lourdes Henrique Manzo, sua esposa. Nesses trabalhos, feitos em guache, orientam-se no sentido de representar pictoricamente as assombrações, o mais exatamente possível, tal qual o crente vê as aparições fantásticas.

Agora, ambos se empenham noutra tarefa de vulto: recolher observações, por este vasto País, e enfeixá-las num “Dicionário Ilustrado das Lendas Brasileiras”. Onde figurarão todos os monstros terrestres e aquáticos, cuja crença foi encontrada no Brasil pelos primeiros colonizadores.

mão pelada

MÃO PELADA: Crença do Oeste e Noroeste de Minas Gerais. Aparição fantástica de um monstro, misto de lobo e bezerro, com pelos avermelhados, olhos grandes e esquisistos e com uma pata dianteira encolhida e pelada. Vaga pelos campos e pelas matas, atacando a quem encontra.

Aturiá

ATURIÁ: Lenda do Furo de Aturiá, nos estreitos de Breves (PA). Conta a lenda que nas águas de Aturiá habitam a rainha das águas e uma velha pobre. Quando os pescadores aí passam, devem jogar uma peça de roupa para acalmar-lhes a ira.

mapinguari

MAPINGUARI: Ente monstruoso e fantástico do Amazonas, come suas vítimas estraçalhando-lhes o corpo. Existem várias versões do Mapinguari. Na gravura, vemos a versão a qual ele se assemelha a um enorme macaco, muito peludo, com pés de burro virados para trás, unhas de onça e boca descomunal localizada na altura do estômago.

mundo subterraneo

MUNDO SUBTERRÂNEO: Lenda dos índios Apinajés. Conta que, certa vez, um índio cavava a terra em busca de um tatu. E tanto cavou que trespassou a terra e caiu sobre uma palmeira, no mundo subterrâneo. Passaram-se quatro dias antes que o feiticeiro da tribo, avisado por um companheiro do índio perdido, conseguisse trazê-lo de volta através do caminho dos porcos selvagens

curacanga

COROACANGA: Mitos das terras de Viana, na Baixada Maranhense. Diz o povo que as coroacangas são cabeas de mulheres que “tem parte com o diabo”. Por este motivo, nas noites de sexta-feira, elas deixam o corpo na rede e as cabeças em fogo voam pelos ares amedrontando as pessoas.

Cavalo Marinho

CAVALO MARINHO: Lenda do Rio Uaicupapá-Amazonas. Monstro marinho com feições de cavalo, de pelos brancos, sendo a crina e a cauda feitas de fios de ouro. Afirma a lenda que quem encontrar o cavalo-marinho ficará rico.

Velha de chapeu

VELHA DE CHAPÉU: É a personificação da fome nos Estados do Nordeste. Uma velha alta, esquelética, com um vestido branco e um grande chapéu na cabeça.

 

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