Está no ar o mais um episódio do podcast que produzo para o Mundo Freak! Serão 10 episódios do Popularium publicados quinzenalmente, onde vamos abordar com profundidade mitos e lendas brasileiras. Neste programa, vamos falar da Iara como mito da violência eufemizada.
Confira o Popularium! Folclore brasileiro como você nunca ouviu. Ouça aqui.
Essa história não se passa em uma cidadezinha desconhecida, daquelas onde a luz elétrica ainda teima em não alcançar. Também não aconteceu em uma noite de lua cheia, não ocorreu com algum amigo de um amigo meu, e nem se deu em uma época muito, muito distante.
Não, essa história aconteceu em uma praia em Intanhaém, no litoral sul de São Paulo. E foi lá, aos três anos de idade, que Ellen Sato viu pela primeira vez uma sereia. Era, na verdade, uma pequena estátua, em frente a um quiosque de praia. Da beleza mítica da criatura restava muito pouco. O rosto da escultura, desfigurado pela ação dos vândalos, era quase inexistente. As cores há muito já haviam abandonado sua vasta cabeleira. Faltava um dos seios à estátua, mas o outro, resiliente, permanecia exposto como que em desafio. Uma cauda curta e reta finalizava a castigada imagem.
Ellen nunca havia ouvido falar em sereias até então, muito menos em seus poderes e sortilégios. Ainda assim, o encantamento aconteceu naquele dia. Para além de uma estátua depredada, Ellen sentiu algo mais. Algo que ela descreve como pura fascinação. Disse assim:
“Toda vez que eu ia para a praia eu precisava ver aquela estátua. Se eu não a visse, esperneava, chorava, berrava… Eu dizia: ‘mãe, eu quero ver aquela mulher. A mulher sem sutiã’”, lembra ela, deixando claro que não era apenas a cauda de peixe que lhe despertava a imaginação. “Eu era muito pequena, eu não tinha noção do que ela era. Mas toda vez que eu entrava no mar eu imaginava ser aquela figura” (COSTA, 2016).
Foi assim que começou o fascínio de Ellen pelos encantados do mar. Uma paixão que anos mais tarde a faria se tornar uma sereia profissional, com direito a cauda com nadadeira e uma rotina de treinos para se manter embaixo d’água o máximo de tempo possível.
A moça chegou até mesmo a aparecer no Fantástico em uma matéria sobre o sereismo, uma moda que tem atraído milhares de jovens pelo mundo todo. Morena de feições indígenas, olhos puxados e cabelo liso, Ellen é conhecida entre as praticantes de sereismo como a Sereia Iara, e tem muito orgulho de encontrar no folclore brasileiro a representatividade na figura de senhora das águas. No entanto, será mesmo este o rosto a Iara?
Neste programa, vamos dissecar o imaginário popular, refletindo sobre o que ele evoca no simbólico. Assim, veremos que estes mitos e lendas, em última instância, não dizem sobre monstros encantados, mas sobre nós mesmos. Eu sou Andriolli Costa e este é o Popularium.
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