[#Saci100] Saci Fantástico

Da FC ao terror, passando pela fantasia, saci continua inspirando histórias de todos os tipos

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Texto da Revista Saci Pererê – 100 anos do Inquérito. Clique aqui para ler e baixar.

Por Andriolli Costa

Se Monteiro Lobato estabeleceu as bases para a literatura infanto-juvenil com inspiração na cultura popular brasileira, colocou também indiretamente um entrave para essa produção. O Picapau Amarelo é o parâmetro, um monólito quase intocável de onde as narrativas dessa ficção folclórica acabam tendo que beber para serem aceitos.

Isso vem mudando recentemente graças aos sistemas de publicação independente pela rede, seja no caso da Amazon ou no Wattpad, é cada vez maior o número de publicações que se arriscam a dar sua própria cara ao folclore brasileiro – principalmente no âmbito dos contos. Muitas inclusive brincando com as próprias bases do gênero, como faz Gabriel Requiem em O Senhor do Vento. Na história, referências da biografia de Lobato se unem a uma traumática experiência na Guerra contra o Paraguai. Os sacis da história, criaturas aracnídeas com uma carapaça escura, rodam grandes ferrões de escorpião como se fossem furacões.

A democratização da produção caminha para os dois lados, no entanto e histórias ruins e as vezes muito ruins são publicadas na rede. Nesse gênero emergente, sobre o qual ainda há muito preconceito e desconfiança por parte do leitor, não há grande margem de erro.

Para além da narrativa curta, é preciso destacar dois grandes expoentes nos romances de ficção folclórica nestes últimos anos. O primeiro grande marco foi a publicação de A Bandeira do Elefante e da Arara, por Christopher Kastensmidt. O autor ja havia vencido o prêmio Nebula com a primeira novela da série. Agora, com o romance lançado, os planos são o lançamento de um RPG e um jogo de tabuleiro. Cabe lembrar que em parceria com a misterybox Nerd Loot, o livro foi enviado ainda em pré-venda para cerca de 5 mil assinantes. Nasceu já um best seller.

Outro destaque é Felipe Castilho, autor da série O Legado Folclórico, que já está em seu terceiro livro. No maior evento de cultura pop do Brasil, a Comic Con Experience, Felipe participou com um imenso boitatá do painel sobre literatura fantástica. É o folclore brasileiro encontrando seu espaço no mainstream. Confira ao lado um breve apanhado de obras de ficção folclórica, acompanhadas de opiniões puramente pessoais.

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Raízes de vento e sangue
Lauro Kociuba, Edição do autor (2017)

Esta coletânea de contos ainda não foi publicada, mas tive a oportunidade de ler boa parte deles como leitor beta e foi uma experiência única. Lauro bebe da fonte dos folcloristas trazendo muitas cenas referenciais, mas não se furta da inventividade. “Odin trocou seu olho por sabedoria. Pense no que troquei pela perna?”, pergunta seu saci.

 

 

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Trabalho Honesto
Rodrigo van Kampen, Edição do Autor, 2016

Nesta novela cyberpunk onde os portais entre nosso mundo e o das lendas foi permanentemente aberto, acompanhamos o lobisomem Rhalfe em seu honesto trabalho como “braço” de Victor Sombrera. Um destes trabalhos é ajudar um pobre saci hacker que está sendo acusado de usar sua aura do caos para avacalhar os negócios de uma loja de departamentos.

 

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Quando o saci encontra os mestres do terror
Antologia. Editora Estronho, 2013

Antologia no momento disponível apenas pela Amazon. Dos que tratam de saci, destaque para “Pacto Hereditário” com uma história angustiante e bem escrita. “Mr. Bierce o duende dos pampas” também surpreende. Por outro lado, “Tempat Bagi” tenta criar um clima lovecraftiano, mas a narrativa no tempo presente e a história cheia de clichês decepciona.

 

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Brasil Fantástico
Antologia. Editora Draco, 2013

Antologia produzida em parceria com o Clube de Leitores de Ficção Científica. Como várias do gênero, alterna contos muito bons e aqueles nem tanto. Dos que tratam de saci, “A sacola da escolha”, e “o padre o doutor e os diabos que os carregaram” são longos contos que tratam de diversos mitos em relação, quase que um panorama geral demais. Me chamou pouca atenção.

 

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Contos do Sul
Simone Saueressig. Edição do autor, 2012

Numa coletânea inspirada nos contos de João Simões Lopes Neto, Simone nos brinda com versões muito cruas e aterrorizantes das criaturas folclóricas neste que é o melhor livro do gênero para mim. O Saci, texto que encerra o livro, traz o encanto pelo circo – mesmo que decrépito, as paixões infantis e a furiosa criatura encerrada na garrafa. Que horrores aguardam quem a libertar?

 

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A Odisseia de Tibor Lobato
Gustavo Rosseb. Editora Jangada, 2011

O jovem Tibor e sua irmã Sátir vão morar com a avó em um sítio. A história e cheia de referências, algumas até óbvias demais, que são um prato cheio para quem gosta. O saci deste livro que usa a alcunha de “Sacireno Pereira” não é dos meus favoritos. Desgosto também da reunião familiar de vários mitos que o livro trás. Ainda assim, vale pela inventividade.

 

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