Por Andriolli Costa
No início deste ano meu pai e meus tios terminaram a construção de uma casa nova para meus avós. Um lugar mais perto dos filhos, com um cantinho mais seguro e ajeitadinho para o fim da vida de quem tanto trabalhou pelos outros. Tudo feito na unha!
Vô Oliveira e Vó Marlene se encarrapicharam no pé de uma serra da Colônia Nova, em Terenos/MS, há pelo menos 50 anos. Eu era capaz de jurar que o Vô só sairia da chacrinha enterrado. A Vó, também, vivia desconversando quando se falava em mudança. Dizia que estavam velhos demais para essas coisas. E assim foram ficando naquela casinha, remendada com cacos de memória em cada metro quadrado.
A “tapera velha”, como diz o Vô, foi onde eu passei boa parte das minhas férias de infância. As paredes de madeira enjambrada eram azuis até bem pouco tempo, rosas há quase uma década e amarelas há pelo menos 20 anos. Às vezes eu me pegava tentando adivinhar sua idade através das cores, como um geólogo analisando camadas de rocha.
O suporte para aquela tela multicolorida era o chão encerado, que marcava de vermelho o pé de quem insistia em andar descalço pela casa. Isso para não falar nas janelas com tela verde que impediam a entrada – mas não o convívio – da morcegada, que guinchava do lado de fora a noite toda. Rosa, verde, amarelo… Cores de Frida Kahlo, diriam.
Os velhinhos estão mais do que felizes em sua nova morada, e não querem nem saber da antiga mais. “Tapera velha é lugar de assombração”, diz o vô. Ainda assim, dei um pulo lá para fotografar a chácara. Um ensaio de despedida, mas também de saudade.
Nossa, parece que eles saíram às pressas do lugar. :O As fotos ficaram excelentes!
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