[#Saci100] Ronaldo Clipper – O agradável saci da Represa Billings

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Texto da Revista Saci Pererê – 100 anos do Inquérito. Clique aqui para ler e baixar.

Por Ronaldo Clipper

Meu pai e eu conhecemos um saci em uma insólita pescaria, na Represa Billings em São Paulo. Parecia um menino, negro, com uma perna só, cachimbo na boca, carapuça vermelha, com um sorriso maroto e astuto. Como nós tínhamos cachaça de Salinas e um fuminho de Arapiraca o bicho ficou amigo nosso e até nos presenteou com uma carapuça, um cachimbo, que guardamos até hoje.

O nome desse saci era Porã e pertencia a família dos Pererês. Ele disse que foi criado junto com o universo. Disse também que conhecia varias partes d, pois, com seu redemoinho, ele conseguia furar o espaço-tempo e parar em qualquer canto do universo.

Porã era do tipo falador, gostava de contar vários causos. Ele contou que uma vez fantasiou-se de São Benedito para pregar uma peça em alguns devotos do Santo. Quando a igreja estava vazia, entrou uma senhora, de uns 60 anos, para fazer orações. A senhora ajoelhou no oratório com rezas pedindo saúde, proteção e prosperidade.

Em um momento da oração, a mulher fazia desse modo “Ó meu São Benedito! Quero pedir que não falte pão…” O saci Porã, aproveito a oportunidade, disse “Quer pão Beata, então toma!” e deu uma “pãozada” na cabeça da mulher. A mulher se assustou e quando olhou para a imagem do Santo viu o saci Porã e se assustou ainda mais, chegando a urinar na roupa. Assim que pregou a peça, o saci Porã usou seu redemoinho espaço-tempo e se escafedeu rindo.

Depois de rirmos juntos, perguntei ao saci Porã: se ele era proibido de entrar em igrejas, como é que ele fez para entrar nessa? Ele disse que isso é boato e que é muito querido por Deus e, além disso, por ele ter espírito infantil, tem livre acesso ao reino dos céus. Chegou a citar até Jesus “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais, pois o Reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes a elas”.

Esse saci era sincretista e tolerante passava por todas as religiões. Gostava muito da Umbanda, dizia que era um culto alegre. Passava horas trocando ideias com o Preto Velho, pois este sempre tinha um fumo de oferenda. O saci Porã Pererê contou muitos outros causos, mas deixa para uma próxima oportunidade. Fica a dica para quem gosta de pescar. É sempre bom levar um fuminho bom e uma cachaça pra esse danado, para ele não aprontar suas traquinagens. Além disso, pode ganhar um bom amigo.

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